martes, 25 de septiembre de 2007

Que o tempo nos baste



O tempo que espere

O teu beijo, prometido.

O tempo que espere

O regresso de teus lábios

Em sorrisos gravados em mim.

O tempo que espere

Teu corpo, sonhado meu

No leito solitário

Em que me adormeço.

O tempo que espere

Sempre por ti

Dando-me a vida

Que nos baste.

jueves, 26 de julio de 2007

REENCONTRO COM A DESPEDIDA




Despedimo-nos com um olhar de Outono chegado
Sentindo um abandono intemporal da primavera
Que permanecera entre nós sem outra estação.

Partimos numa dúvida decidida de partir
Porque há quem parta por mera imposição
De uma vontade racional que não se sente.

Jamais falámos senão na distância de pensamentos a sós
Aventurando-me na previsão de respostas dadas por ti
Aos questionários formulados pela minha solidão
Em linhas de horizontes que se despediam de mim.

Em quantas páginas seguintes nos reinventámos
Num livro continuado pela fantasia do amanhã
Onde se traçava um caminho a par e diferente
Do precipício que vislumbrámos face a face.

Chegados ao local do reencontro
Revemos a imagem actualizada do passado
Onde o abismo estende uma ponte à outra margem
E o presente amanhece como se o amanhã fosse nosso
Num recomeço que apenas aguarda serenamente a sua hora.

Há partidas que serão sempre regressos sem previsão
Deixadas ao destino traçado no mistério dos seus passos.

lunes, 16 de julio de 2007

Far-te-ei




Far-te-ei o canto da ave em que desperto
De um sono calmo onde já és sonhada;
Far-te-ei o primeiro rasgo de luz na madrugada
Que traça teu corpo nu e cintilante;
Far-te-ei o sonho sobre o qual caminho
Numa visão do longe em que te alcanço;
Far-te-ei o leito da noite onde me deito
Sem horas certas para te deixar de sonhar;
Far-te-ei meu sonido num silêncio perpétuo
No qual te escuto e te oiço só a ti;
Far-te-ei o meu ocaso e a madrugada
Onde me adormeço e em ti renasço;
Far-te-ei em tudo o que em minha vida acontece
No mais ínfimo sinal desta existência;
Far-te-ei o mar e a areia, a minha praia
Em que permanecerei depois de partir.

Far-te-ei apenas minha porque te amo.

jueves, 21 de junio de 2007

SAL DA VIDA



Deixamos o beijo salgado da despedida
Nos lábios rochosos de uma enseada
Há tempos abandonada pelo mar.

Deixamos o sal das lágrimas secas
No lenço branco caído nos degraus
Que descemos pela última vez.

Deixamos cristalizado no corpo que amámos
O sal da saliva derramada no acto de amor
Como a última refeição de um condenado.

Deixamos o sal da vida algures
Por lugares que nos convencemos desertos
Onde nos esperam sem o esperarmos.

miércoles, 30 de mayo de 2007

CAIS DE ABRIGO



Já fui ao cais
esperar a chegada
dos meus sonhos
trazidos no vento
do alto mar.
Já fui ao cais
na ânsia das ondas
que soltam as ilusões
em que adormeço
numa viagem ritmada
do mágico traço azul.
Já fui ao cais
para me sentir
regido pelas marés
e no crepúsculo nocturno
partir como quem nasce
ao sabor do acaso
em expansão contínua
e no regresso
trazer nos lábios
a voz das ondas
e na alma a maresia
que o mar concede.
Já fui ao cais
esperar essa chegada
na qual parta
sem ter fim.


jueves, 26 de abril de 2007

O BECO DA SEDUÇÃO




Há pessoas que se cruzam


Sem olhares face a face


E sem o sabor dos lábios


Que se beijam entre linhas


Escritas na distância oculta


Do seu espaço anónimo.


Há pessoas que se espreitam


Entre janelas envergonhadas


Atrás das quais foram crescendo


Sem portas abertas ao imprevisto


Que espreitam nas fechaduras.


Há pessoas que se querem a dois


Tropeçando entre pedras soltas


E desgovernadas como seu caminho


De enseadas, becos e baldios


De planícies, infinitos e horizontes.


Há pessoas tão chegadas


Tão apertadas num forte abraço


Tão esperadas e desejadas entre si


E que se esgotam no mero ápice


De incertezas em encontros últimos.


Há pessoas, tantas pessoas


Que entre si transitam


Sem querer e por querer


Mas sem destino final.

lunes, 9 de abril de 2007

ACREDITO EM TI




Minhas fáceis palavras
Podem omitir Teu nome,
Meus actos mais parecem
Ocultar Tua existência,
Minha vida intempestiva
Nem sempre Te reconhece.
Mas acredito em Ti.

Creio ser meu propósito
Transmitir Teu testemunho,
Creio ter uma caminhada
Com Teu tácito acordo,
Creio desbravar a vida
Em Tua reflexa imagem.
Porque acredito em Ti.

Sei que sou falho
Por falha certeza de ser
Sei que me reinvento
Sobre genuína ilusão
Sei de um sonho que busco
Para além do meu sonhar.
Porque acredito em Ti.

Mas sempre regresso
À fonte em que aprendi a beber
E sempre revejo a árvore
Dos frutos que outrora colhi
De um pomar de sementes de luz
Que o céu se incumbiu de regar.
Porque acredito em Ti.

Por isso tenho-me teu
Numa pertença de livre opção
Na qual esvoaça a ave que migra
Entre desígnios traçados para mim
E me atrevo por vastos caminhos
Onde reencontro as tuas pegadas.
Porque acredito em Ti.

viernes, 30 de marzo de 2007

PARTIR



Podia partir na busca
Do reencontro
Sem olhar para trás
E sem revisão do acto
De partir em busca
Do reencontro.

Podia partir no desvairo
Incontido e voraz
De recuperar todas
As pétalas que amei
Na densa floresta
Das promessas eternas
No bosque edílico
Dos castos sentimentos
No labiríntico jardim
Das sucessivas paixões
No oásis reservado
Aos secretos amores.

Podia partir sem avisar
Sem norte nem sentido
Sem destino previsto
Sem rumo definido
Sem opção tomada
Sem escolha prévia
Sem sequer pensar
Em nada nem nisso
De partir.

Podia partir
Em busca de mim
Num simultâneo regresso
Como o vai e vem
De um louco
Num corredor
De hospício.

Podia partir
Agora!

miércoles, 21 de marzo de 2007

EM PROL DA POESIA



Em prol da poesia

guardar-lhe-ei a noite

e o silêncio das palavras

e uma vela onde a chama

consuma seus sonhos.


Em prol da poesia

guardar-lhe-ei minhas horas

passadas frente ao mar

do qual a voz das ondas

me invada de maresia.


Em prol da poesia

guardar-lhe-ei

a planície da vida

o vale da morte

e o planalto

da eternidade.


Em prol da poesia

um sopro de alma

num gesto qualquer.

domingo, 11 de marzo de 2007

PALAVRAS NOSSAS




Amo as palavras
Que começam nos lábios
E findam num beijo

Amo as palavras
Que se cruzam num olhar
E se repetem mais tarde

Amo as palavras
Que estendem os braços
Aos braços estendidos

Amo as palavras
Que dão voz ao silêncio
De um desejo guardado

Amo as palavras
Que sempre em ti escuto
Sem nunca me as dizeres

Amo as palavras
Que hoje aqui escrevo
Porque falam de nós.

miércoles, 28 de febrero de 2007

O TEMPO DO EGO



Faz tempo
que deixei o meu menino
à porta de casa.
ficou à chuva e ao vento
deixado ao relento
do meu esquecimento.
faz tempo...

Tornei-me sem abrigo
ao fechar-me entre paredes
em que me selei a sós
e tive frio e fome e sede.
Cerquei-me de todos os agasalhos
e banqueteei-me sem convidado algum
no receio de não chegar.
Eu próprio fui as sobras
do quanto farto
de mim próprio fiquei.
E depois fui eu e eu e mais eu…
em contínua repetição
de mim mesmo.

Por fim,
o nada tomou-me nos braços
e eu caí.

Abriu-se-me a porta
e lá estava o menino
que supostamente não abriguei,
e com ele,
- faz tempo! –
tinha deixado meu coração.

sábado, 17 de febrero de 2007

A VOZ DAS (NOSSAS) SOMBRAS


Ouves os latidos
De todos os cães vadios
E acodes na noite
Aos desabrigos do dia
À insónia da cidade.


Ouves o sussurrar
Das folhas de plátano
Caídas neste Outono
E arrastadas pelo vento
Para os recantos gelados
Das sombras ocultadas
Pelos olhos da cidade.


Ouves os gemidos
Dos lençóis de papelão
Encostados às paredes
Revestidas de remendos
Sem janelas abertas
Nesta face da cidade.


Ouves os silêncios
Das vozes envergonhadas
Que se omitem
Entre becos abandonados
E baldios perdidos
Na distância dos olhares
De quem não vê
Mais que o seu nome
No diário da cidade.

miércoles, 7 de febrero de 2007

MÃE


Foste sol
ao despontar em ti
esse raio de luz
que me gerou;

Foste mar
ao me inundares com esse amor
em que naveguei no teu corpo
onde era já pressentido
só por me quereres;

Foste mãe
nessa centelha de vida
que inflamaste em teu ventre
e no qual fundámos
o nosso amor.

sábado, 27 de enero de 2007

A PINTURA




Pintamos por palavras

as cores das nossas emoções,

desenhamos por letras

a descomposta abstracção da alma,

pincelamos por sílabas

a paulatina caminhada da descoberta,

salpicamos a tela de fonemas

conjugando contrastes de modo,

esboçamos em cinza linguagem

a discreta intimidade que privamos,

traçamos de verbos inconstantes

o transparente acetato desta passagem.



Somos livre esboço inacabado

somos pinceladas numa tela invisual

somos informes aguarelas em dispersão

somos todas as cores em diversos tons.

miércoles, 17 de enero de 2007

CHORAR




Chorar todas as lágrimas
contidas por preconceito
chorar sem o orgulho
de o nunca ter feito.
Chorar nos olhos de quem ama
e chorar com a chama
do amor que arde no peito.
Chorar alheado de receios
de revelar em si a fraqueza
de um suposto acto sem nobreza.
Chorar como quem grita
toda a raiva da traição;
chorar com a súplica da desdita
prostrado na agonia do perdão.
E por fim chorar com alma
fluindo todo esse rio de calma
desses olhos marejados de paixão.
Chorar, mesmo uma vez que seja,
mas chorar sem vergonha de quem veja.

martes, 9 de enero de 2007

O QUE EU GOSTO




O que eu gosto é que me oiçam sem falar
aquilo que se eu falasse, ouviriam
O que eu gosto é de ouvir só com o olhar
ouvir, se falassem, o que eles diriam…

O que eu gosto é que oiçam em meus actos
as palavras que vão no meu gesto
O que eu gosto é de escutar só os factos
ouvir toda a orquestra só no maestro…

O que eu gosto é que oiçam minhas sensações
ouvir o que só o espirito sente
O que eu gosto é de ouvir nas emoções
toda essa palavra inexistente…