sábado, 27 de enero de 2007

A PINTURA




Pintamos por palavras

as cores das nossas emoções,

desenhamos por letras

a descomposta abstracção da alma,

pincelamos por sílabas

a paulatina caminhada da descoberta,

salpicamos a tela de fonemas

conjugando contrastes de modo,

esboçamos em cinza linguagem

a discreta intimidade que privamos,

traçamos de verbos inconstantes

o transparente acetato desta passagem.



Somos livre esboço inacabado

somos pinceladas numa tela invisual

somos informes aguarelas em dispersão

somos todas as cores em diversos tons.

miércoles, 17 de enero de 2007

CHORAR




Chorar todas as lágrimas
contidas por preconceito
chorar sem o orgulho
de o nunca ter feito.
Chorar nos olhos de quem ama
e chorar com a chama
do amor que arde no peito.
Chorar alheado de receios
de revelar em si a fraqueza
de um suposto acto sem nobreza.
Chorar como quem grita
toda a raiva da traição;
chorar com a súplica da desdita
prostrado na agonia do perdão.
E por fim chorar com alma
fluindo todo esse rio de calma
desses olhos marejados de paixão.
Chorar, mesmo uma vez que seja,
mas chorar sem vergonha de quem veja.

martes, 9 de enero de 2007

O QUE EU GOSTO




O que eu gosto é que me oiçam sem falar
aquilo que se eu falasse, ouviriam
O que eu gosto é de ouvir só com o olhar
ouvir, se falassem, o que eles diriam…

O que eu gosto é que oiçam em meus actos
as palavras que vão no meu gesto
O que eu gosto é de escutar só os factos
ouvir toda a orquestra só no maestro…

O que eu gosto é que oiçam minhas sensações
ouvir o que só o espirito sente
O que eu gosto é de ouvir nas emoções
toda essa palavra inexistente…