jueves, 26 de julio de 2007

REENCONTRO COM A DESPEDIDA




Despedimo-nos com um olhar de Outono chegado
Sentindo um abandono intemporal da primavera
Que permanecera entre nós sem outra estação.

Partimos numa dúvida decidida de partir
Porque há quem parta por mera imposição
De uma vontade racional que não se sente.

Jamais falámos senão na distância de pensamentos a sós
Aventurando-me na previsão de respostas dadas por ti
Aos questionários formulados pela minha solidão
Em linhas de horizontes que se despediam de mim.

Em quantas páginas seguintes nos reinventámos
Num livro continuado pela fantasia do amanhã
Onde se traçava um caminho a par e diferente
Do precipício que vislumbrámos face a face.

Chegados ao local do reencontro
Revemos a imagem actualizada do passado
Onde o abismo estende uma ponte à outra margem
E o presente amanhece como se o amanhã fosse nosso
Num recomeço que apenas aguarda serenamente a sua hora.

Há partidas que serão sempre regressos sem previsão
Deixadas ao destino traçado no mistério dos seus passos.

lunes, 16 de julio de 2007

Far-te-ei




Far-te-ei o canto da ave em que desperto
De um sono calmo onde já és sonhada;
Far-te-ei o primeiro rasgo de luz na madrugada
Que traça teu corpo nu e cintilante;
Far-te-ei o sonho sobre o qual caminho
Numa visão do longe em que te alcanço;
Far-te-ei o leito da noite onde me deito
Sem horas certas para te deixar de sonhar;
Far-te-ei meu sonido num silêncio perpétuo
No qual te escuto e te oiço só a ti;
Far-te-ei o meu ocaso e a madrugada
Onde me adormeço e em ti renasço;
Far-te-ei em tudo o que em minha vida acontece
No mais ínfimo sinal desta existência;
Far-te-ei o mar e a areia, a minha praia
Em que permanecerei depois de partir.

Far-te-ei apenas minha porque te amo.