Após o deserto
Volto ao poema
Com o despertar das árvores
Caducas
Na hora da folhagem
Num tempo de rebentos
Na aparição das pétalas sem nome
E sem preço nas floristas
Volto ao poema
Carregado de galhos tenros e verdes
Por entre extremidades em fuga de mim
Como novos caminhos
Como extensões difusas
Como afluentes que se rasgam
No transbordo de um leito
Que corre sem visão de mar
Volto ao poema
Agora que amanheço sobre a noite
Onde rasguei as sombras que
cobriram a madrugada
Agora que me revejo no espelho do
horizonte
E me reencontro no caminho
indefinido
Das minhas persuadidas certezas
Firmadas na eventualidade dos
acontecimentos
Agora que os sentidos apenas são
cinco.
Volto ao poema