miércoles, 28 de febrero de 2007

O TEMPO DO EGO



Faz tempo
que deixei o meu menino
à porta de casa.
ficou à chuva e ao vento
deixado ao relento
do meu esquecimento.
faz tempo...

Tornei-me sem abrigo
ao fechar-me entre paredes
em que me selei a sós
e tive frio e fome e sede.
Cerquei-me de todos os agasalhos
e banqueteei-me sem convidado algum
no receio de não chegar.
Eu próprio fui as sobras
do quanto farto
de mim próprio fiquei.
E depois fui eu e eu e mais eu…
em contínua repetição
de mim mesmo.

Por fim,
o nada tomou-me nos braços
e eu caí.

Abriu-se-me a porta
e lá estava o menino
que supostamente não abriguei,
e com ele,
- faz tempo! –
tinha deixado meu coração.

sábado, 17 de febrero de 2007

A VOZ DAS (NOSSAS) SOMBRAS


Ouves os latidos
De todos os cães vadios
E acodes na noite
Aos desabrigos do dia
À insónia da cidade.


Ouves o sussurrar
Das folhas de plátano
Caídas neste Outono
E arrastadas pelo vento
Para os recantos gelados
Das sombras ocultadas
Pelos olhos da cidade.


Ouves os gemidos
Dos lençóis de papelão
Encostados às paredes
Revestidas de remendos
Sem janelas abertas
Nesta face da cidade.


Ouves os silêncios
Das vozes envergonhadas
Que se omitem
Entre becos abandonados
E baldios perdidos
Na distância dos olhares
De quem não vê
Mais que o seu nome
No diário da cidade.

miércoles, 7 de febrero de 2007

MÃE


Foste sol
ao despontar em ti
esse raio de luz
que me gerou;

Foste mar
ao me inundares com esse amor
em que naveguei no teu corpo
onde era já pressentido
só por me quereres;

Foste mãe
nessa centelha de vida
que inflamaste em teu ventre
e no qual fundámos
o nosso amor.